quarta-feira, 23 de maio de 2007

Tirando os óculos e as lentes de contato?

Por Adriana Dias, mestranda em Antropologia Social, UNICAMP

A presente reflexão tenta se centrar na relação entre estudantes, imprensa e Estado. Os estudantes da USP (mas, o movimento amplia-se para todas as Universidades Públicas Paulistas), a imprensa é a grande mídia (em especial a conduzida pela Globo, pela Folha de São Paulo, pelo Estado e pela Veja – nesta em especial o blog do colunista Reinaldo Azevedo[1]) e o Estado é o paulista, neste início de “gestão” do governador José Serra. Não pretendo dar conta da relação, nem esgotar o assunto, mas gostaria de problematizar como os estudantes são tratados pela grande mídia, pelo governo, em suas comunicações a esta mesma mídia.

A situação está a tal ponto absurda, que no Observatório de Imprensa, o jornalista, pós-graduado em Ciências Sociais, pela USP, Luiz Weis comentou:

“Dá vontade de ocupar as redações da Folha e do Estado em protesto contra a
lastimável cobertura da crise aberta nas universidades públicas paulistas, em
especial na USP, pelo decreto do governador José Serra de 1º de janeiro, que
"organiza a secretaria de Ensino Superior e dá providências correlatas[2]”...
Esta observação revela como o evento da ocupação da USP por estudantes, em 3 de maio último, divide a imprensa: há a grande mídia, que deseja intervenção policial na USP, contra os “vândalos”, “mentirosos”, “vagabundos”, “remelentos”, para citar apenas algumas das formas como a imprensa se dirige a estudantes, que, diga-se de passagem, conquistaram o “status” de estudantes da USP, por meio de um processo vestibular que se encontra entre os mais difíceis do país, há uma outra mídia que reclama o direito à desocupação pacífica pautada ela negociação e pelo diálogo com a reitora, nunca com os policiais.

O governador José Serra, ainda que nas últimas horas tenha se pronunciado “a favor da desocupação pacífica”, talvez diante da enxurrada de críticas que recebeu desde que o estopim da ocupação da Reitoria pelos alunos explodiu seu ideal de governo exemplo-perfeito-garantidor-de-eleição-presidencial, a primeira postura de José Serra foi a de criticar duramente os alunos, atribuindo seu ato ao "desejo de agitar" e baseado em "mentiras". A este comentário acrescentou o seguinte, legitimando-o por ter sido presidente da UNE: “Fazíamos agitação. Estávamos baseados em posições políticas, em teses que podiam ser discutíveis, mas eram verdadeiras. Não estavam baseadas em miragens e mentiras”.

A Folha de São Paulo adota a postura de encarar a ocupação como “uma invasão”, e dispara no sensacionalismo das fotos, mostrando helicópteros da Polícia Militar sobre o prédio da reitoria”, fotos do comandante da operação, com sugestões de como os jovens devem se proteger de um provável confronto: “é preciso evitar óculos e lentes de contato”. Na verdade, é a própria folha que parece evitar “óculos e lentes de contato” no seu confronto com a verdade: várias vezes avisou que o patrimônio havia sido destruído ou documentos teriam sido extraviados, para ser desmentida por fotos e testemunhos postados pela Internet afora. Nasce uma nova arena de debate, e a possibilidade de ver fotos e filmes, disponibilizados pelos estudantes, parece ter esvaziado, pelo menos um pouco, a possibilidade de “se inventar qualquer coisa pelo discurso”, como um jovem postou num comentário.

A ocupação da reitoria, ato a que eu credito a condição de legítimo, de pacífico, de preservador, da Universidade Pública e dos direitos constitucionais garantidos, se instala como uma resposta a um Executivo que insiste em governar por decretos, e enquanto o faz, precariza as condições educacionais, se recusando ao debate e ao diálogo. Diálogo e debate amplamente aberto aos estudantes, que exibem na Internet sua pauta de reivindicações, as críticas que recebem, as monções de apoio que lhe são dadas.

Fala-se, nos portais que se afinam com a fala do governador, que as Universidades públicas são elitizadas, ignorando o grande número de alunos pobres que nelas entram, vencendo a lógica de exclusão do ensino público fundamental e médio, fala-se que eles são “um povo apartado da realidade”. Pede-se por um grande líder, que use da força e os faça calar. Diz Hannah Arendt:
“o povo, em todas as grandes revoluções, luta por um sistema realmente
representativo, a ralé brada sempre pelo «homem forte», pelo «grande
chefe».[...]”.
Esta imprensa não é a voz do povo. É a voz da ralé.

Os estudantes lutam pelo povo, querem ampliar o debate acerca da educação pública de qualidade para evitar que, no estado de São Paulo, a universalização do ensino superior se mescle com a depredação absoluta, como aconteceu ao ensino médio e ao fundamental durante todos estes anos de governo “desenvolvimentista”. E de quem seria culpa desta perda de qualidade? Dos nordestinos, como afirmou José Serra, ainda candidato? Claro que não: a culpa é dos que evitam “óculos e lentes de contato” para evitar ver o compromisso necessário: educação de qualidade se faz com verbas, com política públicas de valorização do professor, com incentivo à politização dos alunos, para que como estes, da USP se mobilizem, por si, pelo futuro, respeitando a aliança insolúvel, garantida constitucionalmente entre pesquisa, ensino e extensão, que os decretos visam fragmentar.

Este é um movimento popular, o vídeo do dia das mães, disponibilizado pelos alunos em seu blog[3], é uma amostra de como esses alunos souberam preservar o sentido de povo. Usar de força policial é totalitário: eles questionam um ato administrativo, apontam, junto com juristas, jornalistas, sociólogos, antropólogos, filósofos, cientistas políticos, artistas, e outros intelectuais de várias s áreas, para o avanço sobre a autonomia das Universidades Paulistas. Governador, miragem é achar que vai se resolver isso com força, mentira é negar a verdade e a força de sua luta política.

[1]O blog tem se dedicado muito ao assunto e considera o ato dos alunos”uma ofensa ao Estado Democrático de Direito”. http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/
[2] http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&id={C2F67501-BF58-40DB-B2EA-6E0D7EA4740F}
[3] http://ocupacaousp.blog.terra.com.br/

11 comentários:

Anônimo disse...

É esse é um governo q traiu quem votou nele, não constava de sua proposta mexer na autonomia das Universidades e ele faz...
Quem é que mente, mesmo?
Todo apoio aos estudantes da USP!

Anônimo disse...

é a mídia é muito parcial, faz o jogo do sistema q sustenta os interesses de quem govrna por decreto

Anônimo disse...

O povo apóia a ocupação.
Ah, mais uma coisa... pessoal, fiquem de olhos abertos com a mídia televisiva (a de maior alcance, infelizmente)... Quem está aqui do lado de fora, está vendo barbaridades pela TV! O negócio é não dar brecha pra que ela deturpe ainda mais o movimento. Eu soube do "movimento rosa choque" contra a PM... parece uma ótima estratégia, se for necessária. É algo que vai aparecer, "pega bem", e não vai ter como deturpar.

Parabenizo-os pela idéia!

Anônimo disse...

Sou estudante do primeiro ano de sociais e compartilho da opinião de que a mídia é extremamente tendenciosa, algo que sempre soube mas que nunca me irritou tão profundamente. É incrível como conseguem complicar e inveter as histórias, recorrer frequentemente a imaginários caricaturais preconceituosos...
Enfim, esse blog (claro que vinculado a Revista Veja) resume o absurdo na minha opinião.

http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/

Anônimo disse...

Governo autoritário + Mídia de rabo preso = democracia em perigo!

Anônimo disse...

VOCES SÃO APENAS MASSA DE MANOBRA, MANADA.

SÓ PARA RELEMBRAR:

CHÁVEZ INDICA SEU HOMEM NO BRASIL: STÉDILE

Por enquanto, para preparar o caminho, “fiquemos com Lula” - O MST informa: Lula é o “abre alas” da grande ofensiva para que João Pedro Stédile chegue ao poder. O plano de “tomada do governo” foi anunciado em Curitiba durante a passagem do Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que considera o “chefe nacional” do MST seu representante pessoal no Brasil e sucessor “natural e eventual” de Lula. O projeto de Chávez para o Brasil baseia-se em três pontos:

lº - Reeleição de Lula;

2º Contaminação urbana pelo MST, com aplicação dos seus métodos revolucionários para ocupação de áreas não edificadas e residências consideradas de luxo;

3º - CONTROLE DAS UNIVERSIDADES, para transformá-las em bases de ação;

4º - Controle de uma rede de comunicação, através da cooptação ou compra de redes de TV e rádio com recursos venezuelanos.

Quanto à opinião pública brasileira, a experiência no Carnaval (financiando a Escola de Samba de Vila Isabel, campeã do carnaval carioca de 2006) mostra que com um pouco de dólares tudo se arranja. E Chavez está disposto a gastar.

Anônimo disse...

E no minimo enauseante em uma sociedade q se diz democratica o combate fisico contra estudantes q querem lutam pra garantir o q e seu direito.
Minha indignacao nao e tao somente pelo sucateamento da universidade publica, mas tb pelos argumentos pateticos usados tanto pelo prefeito ex presidente da UNE, bem como o dessa midia comprometida. Nao da pra acreditar na cara de pau, de um homem q diz ter lutado pelos direitos estudantis, ao dizer q a argumentacao dos ocupantes e mentirosa... O meu temor e q essa luta seja sufocada, pq enquanto houver vozes gritando por justica ainda existira a esperanca de dias melhores...

Anônimo disse...

Olá, pessoal!
Sou aluna do IG da Unicamp e está rolando um blog da greve por lá...
http://igemgreve.blogspot.com/
Temos que nos mobilizar e garantir os direitos adquiridos...

Anônimo disse...

Reivindicações inaceitáveis!

Como ex-aluno dos cursos de Filosofia e de Direito da USP, gostaria que todos refletissem sobre as motivações inaceitáveis que estão por trás dessa invasão da Reitoria. Um grupo de alunos decididos a manter privilégios daqueles que usam a Universidade pública como um meio de vida em si mesmo, e não como um instrumento para se tornarem cidadãos produtivos da sociedade. É sabido que centenas de ex-alunos (ou pior! pessoas que nunca foram alunos, como membros do MST!) ocupam indevidamente moradias no Crusp, assim como é sabido que milhares de alunos improdutivos matriculam-se com o único objetivo de desfrutar dos benefícios que a Universidade oferece (bandejão subsidiado, clube, hospital etc.), tornando-se "alunos vitalícios" da instituição. Por outro lado, se nos afigura injustificável o repúdio ao ivestimento privado e a recusa ao critério estritamente meritocrático para o ingresso na USP: as universidades americanas, as melhores do mundo sem dúvida alguma (basta observar os indicadores de produção científica) sobrevivem através de uma forte parceria com a iniciativa privada. A Universidade deve ser um meio de se gerar conhecimento e tecnologia, retornando assim à sociedade o financiamento que esta lhe propicia! Não pode ser um instrumento para privilégios, nem baluarte de defesa de ideais derrotados pela história!

Certamente o princípio constitucional da autonomia universitária existe, e talvez os decretos do Serra sejam mesmo questionáveis sob este aspecto. Agora, o que não é admissível é que um grupo de alunos e funcinários tome este fato como pretexto para defender propostas inaceitáveis e irrazoáveis tais como:

a-)Arquivamento do processo de modificação das regras para cancelamento de matrícula (com o objetivo de proteger os alunos que nada produzem academicamente e apenas utilizam a universidade como meio de vida)

b-)Formulação de projeto a longo prazo para a moradia. Construção imediata de 600 vagas (é sabido que muitas das vagas no Crusp são ocupadas por ex-alunos ou pessoas estranhas à universidade, como membros do MST e outros movimentos sociais)

c-)Nenhuma punição em relação à ocupação da Reitoria (a ocupação em si mesma é um ato de força ilegal, tanto assim que existe ordem judicial para a desocupação. Por outro lado, já há evidências de danos ao patrimônio público, violação de documentos sigilosos e outros ilíctos cometidos pelos ocupantes, que deverão responder pelos atos praticados nas esferas penal, administrativa e cível. Se a Reitora ssim não proceder, estará prevaricando e incidindo ela própria em ilicitude: no Estado de Direito as regras devem valer para todos!)

d-) Autonomia dos espaços geridos e ocupados pelos estudantes (não se pode pretender criar uma "zona franca" na universidade, onde as regras de Direito não sejam aplicáveis; na realidade , por trás desta reivindicação evidencia-se a intenção de praticar impunemente os mais variados ilícitos, como o tráfico de entorpecentes)

e-) retrirada de todos os processos de sindicância administrativos e judiciais movidos ou em andamento contra estudantes e funcinários (objetivo eminentemente corporativo: porque estas pessoas devem ter o privilégio de não responder por atos que tenham praticado? Qual a justificativa para esta defesa da impunidade?)

f-)Lutas por ações afirmativas - mudança radical na concepção de Inclusp para garantir o acesso real de negros e pobres à universidade (a inclusão social é uma meta a ser perseguida, mas o critério de ingresso em uma universidade deve ser sempre meritocrático, sob pena de perder-se a condição de centro de excelência produtor de conhecimento, com prejuízos no longo prazo para toda a sociedade, inclusive os "excluídos" que se quer beneficiar)

g-) Retirada da polícia doninterior do Campus (a presença da PM é garantia de respeito à segurança das pessoas, integridade do patrimônio público e respeito à lei)

h-) Reabertura do campus para todos 24 horas por dia (quando o Campus era aberto, a deterioração do espaço público da universidade acentuou-se, assim como a prática de ilícitos em seu interior)

Anônimo disse...

Nach meiner Meinung sind Sie nicht recht. Schreiben Sie mir in PM, wir werden reden. viagra bestellen cialis ohne rezept [url=http//t7-isis.org]viagra billiger[/url]

Anônimo disse...

Que sale de esto? http://nuevascarreras.com/tag/cialis-online/ cialis 5 mg 28 comprimidos Siamo spiacenti, vorrei proporre un'altra soluzione. [url=http://nuevascarreras.com/tag/cialis-generico/ ]cialis generico comprar [/url]